sexta-feira, 31 de dezembro de 2010


a partir do ano que

vem eu juro que
a vida vai ser agora.

Gregório Duvivier, porque eu já peguei um texto do blog dele e convém pegar mais esse :)

Martha

Conheci Martha na bilheteria de um cinema. Não. Foi no caixa de uma livraria. Não. Foi na fila de um banheiro. Isso. Foi na fila de um banheiro. Eu entrava no banheiro e ela já lavava as mãos. Não. Foi o contrário: eu lavava as mãos e ela entrava no banheiro. Não. Quando eu entrei no banheiro, Martha estava lá, sentada. Não. Eu estava no banheiro quando. Não. Talvez fosse realmente na bilheteria de um cinema. A verdade é que eu não lembro da primeira vez que eu vi Martha. Mas lembro da segunda.

A segunda vez que eu vi Martha foi deitada sobre o meio-fio, com uma ferida no rosto. Desci do táxi (esqueci de falar, eu estava num táxi). Perguntei: Tudo bem com você? e ela: Adivinha. e eu: Não. e ela: Não o que? e eu: Não está tudo bem. e ela: Era uma pergunta retórica. Me leva pra casa? e eu: Onde você mora? e ela: Para casa que eu digo é para a sua casa. E eu só me lembro até aí. O resto foi Martha morando na minha casa, esperando a ferida cicatrizar. Quando eu ia trabalhar, ela dizia: Traz iogurte? Nunca perguntei o porquê da ferida. Nem deixei de comprar iogurte.


Copiado descaradamente de "Rua Caio Mário", o blog do Gregório Duvivier, que é foda e tal, bom à beça, sabe como é.

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

In the USSR, the somewhat complicated novel is the pretentious douchebag who quotes YOU!

"Na maioria dos casos, as pessoas, inclusive os facínoras, são muito mais ingênuase e simples do que costumamos achar. Aliás, nós também."
(...)
"Talvez as faces vermelhas não impedem nem o fanatismo, nem o misticismo; a mim, porém, me parece que Aliócha era até mais realista que qualquer outra pessoa. Oh, é claro, no mosteiro ele acreditava piamente em milagres, mas a meu ver os milagres nunca desconcertam o realista.

Não são os milagres que inclinam o realista para a fé. O verdadeiro realista, caso não creia, sempre encontrará em si força e capacidade para não acreditar no milagre, e se o milagre se apresenta diante dele como um fato irrefutável, é mais fácil ele descrer de seus sentidos que admitir o fato. E se o admite, admite-o como fato natural, que apenas lhe fora até então desconhecido. No realista a fé não nasce do milagre, mas é o milagre que nasce da fé. Se o realista acredita uma vez, é justamente por seu realismo por seu realismo que ele deve forçosamente admitir o milagre."

Finalmente comecei a ler "Os Irmãos Karamázov", e deixei aí em cima dois dos melhores trechos até agora. Yet, considerando a falta habitual de algum leitor, serve para minha própria recordação posterior. Best regards to my future self!

#mimimi-tô-lendo-dostoievski-olha-pra-mim; pois é. Ainda que não seja essa a intenção.

E uma foto de Oscar Graf, também conhecido como Lênin, um soviético/russo ilustre. Sort of related.

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Medo e preguiça.



O vídeo tá cortado pela metade mas não muda nada. Vê aí.

"Há dois tipos de sofredores no mundo: os que sofrem por uma falta de vida, e aqueles que sofrem de uma abundância exagerada de vida. Sempre me encontrei na segunda categoria. Quando você pára para pensar, todo o comportamento e atividade humanos não são essencialmente muito diferentes do comportamento animal. A tecnologia mais avançada faz de nós, na melhor das hipóteses, super-chimpanzés. Inclusive, o vão entre, digamos, Platão e Nietzsche e o humano normal é muito maior que o vão entre um chimpanzé e este mesmo humano normal. A dimensão espiritual verdadeira, o artista real, o santo, o filósofo... estas condições são raramente alcançadas.

Por que tão poucos? Por que a história do mundo e da evolução consiste em uma história de incontáveis zeros ao invés do progresso? Não consigo pensar que grandes novos valores se desenvolveram. Porra, os gregos há 3.000 anos eram tão avançados quando nós. Então, o que são essas barreiras que mantêm as pessoas de alcançar o seu potencial verdadeiro? A resposta pode ser achada em outra pergunta, que é: qual é a característica mais humana que há?

Medo... ou preguiça?"

Resumo pro Volkmann: tradução muito livre e filosofia mastigada do filme Waking Life, o melhor que há para os pseudo-inteligentes-e-filósofos e wannabes por aí. Me inclua nisso, com a próclise mal colocada e tudo ;)