quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Vendrán las iguanas

Cidade sem sono
(Noturno da Ponte do Brooklyn)
Federico García Lorca (tradução livre minha e do Google)

Não dorme ninguém por este céu. Ninguém, ninguém.
Ninguém dorme.
As criaturas da lua farejam e rondam suas cabanas.
Virão as iguanas vivas e morderão os homens que não sonham,
E aquele que corre de coração partido encontrará nas esquinas
O inacreditável crocodilo quieto sob o suave protesto das estrelas.

Ninguém dorme na terra. Ninguém, ninguém.
Ninguém dorme.
Em um cemitério longe daqui há um morto
Que lamentou por três anos
Porque havia terra seca em seus joelhos
E o garoto que enterraram esta manhã chorou tanto
Que tiverem que chamar os cães para que ficasse quieto.

A vida não é um sonho. Cuidado! Cuidado! Cuidado!
Caímos da escada para comer a terra úmida
Ou escalamos à borda da neve com o coro das dálias mortas.
Mas o perdão não existe, sonhos não existem;
A carne existe. Beijos unem nossas bocas
em um emaranhado de veias recentes,
e todos cuja dor dói sentirão a dor sem descanso
e todos que temem a morte a carregarão sobre seus ombros.

Um dia
Os cavalos viverão nas tavernas
E as formigas enfurecidas atacarão os céus amarelos que se refugiam nos olhos das vacas.

Outro dia
Assistiremos a ressurreição de mariposas mortas
E ainda andando por um pais de esponjas cinza e barcos em silêncio
Assistiremos nosso anel brilhar e rosas emanarão de nossas línguas.
Cuidado! Cuidado!
Os homens que ainda têm a marca da garra e da tempestade
E o garoto que chora porque não sabe da invenção da ponte,
Ou aquele morto que não tem mais nada além da cabeça e um sapato,
Devemos levá-los à parede
Onde esperam as iguanas e cobras,
Onde esperam os dentes do urso,
Onde espera a mão mumificada do garoto,
E o pelo do camelo se eriça com um violento calafrio azul.

Ninguém dorme por este céu. Ninguém, ninguém.
Ninguém dorme.
Se alguém fecha os olhes,
Chicote, filhos meus, chicote!
Que haja um horizonte de olhos abertos
E amargas chagas queimando.
Ninguém dorme neste mundo. Ninguém, ninguém.
Já o disse antes.

Ninguém dorme.
Mas se alguém estiver com muito muco em suas têmporas à noite,
Abram as escotilhas para que ele veja, à luz da lua,
As taças falsas, e o veneno, e a caveira dos teatros.


"Further reading":