quinta-feira, 20 de maio de 2010

Ser ou não ser Federal, eis a questão

Hoje alguém me disse que olha meu blog muito frequentemente para checar se há alguma coisa nova; acho que foi uma motivação interessante para escrever de novo. De qualquer forma, vamos ao texto.
__________________________________________________

Considerando a quantidade de dinheiro (hipotético para os céticos, futuro benefício para os crédulos) envolvida e os muitos empregos e vagas em jogo na universidade, uma das questões que e maior relevância em Blumenau atualmente é a federalização da FURB


O assunto é palpitante, inútil é meu blog.

Na posição de calouro e ‘sabe-de-nada’, tenho pouco a dar de opinião baseada em experiência própria, algo que você deve ter deduzido desde o primeiro post do blog. No entanto, é sempre válido começar uma discussão ou fazer alguém pensar – nem que este seja eu mesmo.

Pois bem, primeiro com a posição de quem é pró-federalização, a exemplo de um professor que eu tenho. Parte-se do princípio que, em uma situação ideal de federalização, o orçamento disponibilizado para nossa universidade passariaa ser em torno de 300 milhões de reais. Isso, segundo fontes, é praticamente o triplo do orçamento atual, embora eu não tenha certeza se já está incluída a mensalidade paga pelos alunos ou não.

E em que implica a consolidação desse processo? Os alunos ganhariam muito, certamente. Os professores, a exemplo da UFSC, seriam em sua maioria graduados com um Doutorado, a instituição (fisicamente falando) seria herdada sem nenhum problema, o diploma passaria a ser de uma Federal (e é bem sabido o quão valorizado é isso, mito ou não) e estaríamos isentos de pagar a mensalidade.

Sem contar com o valor econômico e, digamos, ‘científico’ que viria de brinde. Estamos falando de centenas de milhões de reais injetados na economia local e de vários estudantes vindos de vários estados - matriculados aqui, formando-se aqui, trabalhando aqui e gastando dinheiro em coisas blumenauenses, quiçá do vale e congêneres.

Não obstante, mudaríamos o foco atual, com mais ênfase na pesquisa e extensão. Supõe-se que nem todo o dinheiro seria aplicado com o salário dos servidores que trabalhariam na FURB, e, portanto, haverá mais dinheiro para financiar os outros projetos relacionados à universidade.

Por outro lado, há a opinião de quem é contra isso tudo, com suas razões. Antes de levar em conta as conseqüências da hipótese, questiona-se a capacidade desse projeto ser levado adiante – considerando a inexpressividade política de Santa Catarina, é possível que o dinheiro nem chegue até nós e que tudo isso nem seja aprovado lá em cima.

Agora, na parte prática da questão, aqueles professores desqualificados para ensinar em uma Federal (sejam estes didáticos e bons, ou não) seriam os primeiros a sentir o lado negativo. Na iminência de um concurso com pré-requisitos altos demais ou com um nível de dificuldade elevado, uma grande quantidade de discentes iria embora. Confesso que não sei da veracidade dessa informação, mas a minha fonte a garante.

Além disso, ainda que exista o IBES, a FAE e a ASSELVI (ou UNIASSELVI, seja lá), o ensino superior tornar-se-ia em parte inacessível por aqui para aqueles que vêm do ensino público, uma vez que estes não têm a capacidade financeira ou a capacidade acadêmica. De cada 100 alunos que fizeram a prova do vestibular da UFSC de 2007 (e que eu estou tomando como padrão em uma universidade federal, partindo da premissa de que não há razão para que esse número mude drasticamente de ano pra ano), aproximadamente 23 vêm de escolas públicas - que dirá quantos efetivamente são aprovados. Quanto aos que não poderiam pagar, podemos supor que se eles tivessem dinheiro para investir em educação, eles não teriam vindo de escolas municipais ou estaduais.

Minha cara quando me dei conta de que não consigo decidir minha opinião.

E isso é um contra-senso, se o objetivo é elevar o nível do pessoal por aqui. Devemos trazer uma montanha de alunos qualificados pra cá e deixar os incapazes indispondo da FURB?

De resto, sobram perguntas: a administração pública dará conta daqueles milhões todos? Dando vida ao economista dentro de mim, teremos uma alocação de recursos ideal e certa? Ou ainda, haverá recursos para alocar? Os novos professores aumentariam tanto assim o nível? Por fim, você que está lendo, hipotético freqüentador do meu blog: no caso de ser um estudante, você seria capaz de entrar na FURB enquanto Universidade Federal de Blumenau? No caso de ser um calouro ou um veterano, você teria sido capaz de entrar e ser digno de um canudo desses?

É difícil responder. Estou pendente a crer que tornar nossa digníssima instituição pública é o ideal (“pensemos no futuro da cidade!”), mas como pesar o que é mais válido? Parece que ver como Blumenau se beneficiará (olha o clichê aí) é uma questão de ponto de vista. E pior: talvez a cidade saia ganhando e perdendo nas duas possibilidades – basta decidir quem deve ficar na vantagem e quem não deve.

Olhando pros posts que eu tenho escrito, sobre como todos nós somos iguais (ou sem individualismo, dá no mesmo), como somos imperfeitos e sobre como não há verdade, não tem como eu dar uma resposta. Mesmo. Penso até que votaria em branco, no caso de ter que votar em chapas para reitor extremistas nesse sentido.

Afinal, parece que é uma sacanagem (uma puta falta de sacanagem, alguém diria) que alguns percam um emprego de uma forma relativamente injusta e que outros percam a oportunidade de estudar na FURB agora, não parece? Mas também não parece ignorância não optar pelo futuro desenvolvimento daqui? De qualquer forma, como não há verdade absoluta e nunca vai haver, tanto eu como todos vocês, estamos todos errados em nossas próprias proporções. Que seja o melhor para Blumenau e, aos vencedores, as batatas! ;)

mp3: The Radio Dept. – Heaven’s on Fire

Resumo pro Volkmann: Federalizar a FURB ou não? Ambas as frentes tem suas opiniões com sustentação lógica e com um sentido de ser, mas (como sempre) só posso concluir que as duas não estão nem certas nem erradas. Depende sempre de um ponto de vista e de quem você acha que deve sair ganhando.

PS:
Minha fonte da estatística: http://www.vestibular2007.ufsc.br/relatorio/vestgrt03g.html

De resto, prefiro não dizer quem opinou pra eu escrever esse texto. Se alguém leu até o final e tem uma opinião (acho improvável, mas vale a minha intenção), não se acanhe! Deixe um comentário.

domingo, 2 de maio de 2010

Imperfeito porque humano.

Assisti “Homem de Ferro 2” alguns dias atrás e um dos diálogos do filme foi o que serviu para contrabalancear o exagero inacreditável do filme. Eis que, lá pelas tantas, o vilão do filme, “Ivan Vanko”, diz: “Se você faz Deus sangrar, as pessoas param de acreditar nele”.

Bom, eu espero que isso não desvie sua atenção do texto, mas que fique claro que o assunto aqui não será o Homem de Ferro ou Deus. Eles já têm atenção demais para coisas que não existem. É sobre eu, você e essencialmente todo o mundo.

Nós somos imperfeitos. Estaremos sempre diante da nossa própria tragédia grega, cada um com suas proporções, e sempre em uma catarse que nunca acaba. Embora saibamos que há crianças africanas que morrem de fome (e dos clichês inevitáveis), nada nunca nos satisfará a ponto de nos sentirmos completos, seja culpa do seu pensamento livre ou da falta de algum neurotransmissor no cérebro.


E da mesma forma, Deus sangra. Em outras palavras, Deus é humano, e isso porque Deus (e o Homem de Ferro também) representa o nosso ideal de existência, e provavelmente não é muito difícil de chegar nessa conclusão. Afinal, se nos livrássemos de todos os atrasos que nossa humanidade nos proporciona, poderíamos chegar a ser o que quer que fosse da nossa vontade.



Até o homem vitruviano teria crises existenciais.

Imagine que espetacular. Não seria difícil ficar rico, posto que não teríamos razão para gastar em supérfluos. Seriamos nossa própria definição de inteligência, virtuosidade e beleza, uma vez que a nossa disciplina impecável serviria de escada para qualquer patamar. Não haveria depressão, medo, admiração exacerbada ou deficiência (física e psicológica) para deter quem quer que fosse.


O assunto permite afirmar ainda, com meu radicalismo de sempre, que aqui está uma das razões pela qual gostamos tanto de ler histórias e assistir filmes. Além da distração, é emocionante acreditar que um dia seremos pessoas reconhecidas e célebres – seja pelo mérito, pelo valor de nossa criação, pelo amor platônico que se concretiza ou pelo dinheiro que temos.


Mas, voltando ao meu ponto inicial, nunca seremos completos. Não somos melhores que ninguém (isso não deveria nem ser pensável), nunca teremos tudo, e é uma bobagem perseguir isso. Acho até engraçado existirem tantos livros de auto-ajuda (ou a auto-ajuda per se), sempre promovendo o encontro da Felicidade (com efe maiúsculo), a “convivência perfeita” dos casais, o encontro da sua “cara metade” ou ficar milionário – sugerindo, ainda por cima, que ficar rico resolve alguma coisa.


Let’s face it – não resolve. As pessoas certamente ficariam muito mais distraídas com o prazer puro que seria ter um rancho Neverland de entusiasmos e supérfluos. Ainda assim, o tédio eventualmente levaria o novo Michael Jackson em potencial a voltar à estaca zero, procurando algo que o fizesse feliz até o próximo momento de aborrecimento. E, veja só, estamos gastando nossa vida inteira trabalhando.


Então, não sei ao certo como concluir. Não sugiro uma vida antissistema ou algum tipo de anarquia. Sugiro na verdade o bom e velho conformismo, desde que você se lembre que nada nunca vai ser lindo e divino como nossos sonhos e devaneios sugerem.


E ao modo da Academia de Oratória, outra citação, agora no fim. Essa é de (previsível) Tyler Durden: "Você não é o seu emprego. Você não é quanto dinheiro você tem no banco. Você não é o carro que você dirige. Você não é o conteúdo da sua carteira. Você não é as calças cáqui que veste. Você é toda merda ambulante do mundo."


mp3: Yann Tiersen – Summer ’78 (Goodbye, Lenin! OST)


Resumo pro Volkmann: Assista “Clube da Luta” e saiba que ninguém nunca será único, feliz de verdade ou completo – essas coisas são inexistentes e a única noção de ‘felicidade’ que temos está intrinsecamente ligada à nossa distração do mundo de verdade, nem que tenhamos nosso rabo atochado de dinheiro.