domingo, 2 de maio de 2010

Imperfeito porque humano.

Assisti “Homem de Ferro 2” alguns dias atrás e um dos diálogos do filme foi o que serviu para contrabalancear o exagero inacreditável do filme. Eis que, lá pelas tantas, o vilão do filme, “Ivan Vanko”, diz: “Se você faz Deus sangrar, as pessoas param de acreditar nele”.

Bom, eu espero que isso não desvie sua atenção do texto, mas que fique claro que o assunto aqui não será o Homem de Ferro ou Deus. Eles já têm atenção demais para coisas que não existem. É sobre eu, você e essencialmente todo o mundo.

Nós somos imperfeitos. Estaremos sempre diante da nossa própria tragédia grega, cada um com suas proporções, e sempre em uma catarse que nunca acaba. Embora saibamos que há crianças africanas que morrem de fome (e dos clichês inevitáveis), nada nunca nos satisfará a ponto de nos sentirmos completos, seja culpa do seu pensamento livre ou da falta de algum neurotransmissor no cérebro.


E da mesma forma, Deus sangra. Em outras palavras, Deus é humano, e isso porque Deus (e o Homem de Ferro também) representa o nosso ideal de existência, e provavelmente não é muito difícil de chegar nessa conclusão. Afinal, se nos livrássemos de todos os atrasos que nossa humanidade nos proporciona, poderíamos chegar a ser o que quer que fosse da nossa vontade.



Até o homem vitruviano teria crises existenciais.

Imagine que espetacular. Não seria difícil ficar rico, posto que não teríamos razão para gastar em supérfluos. Seriamos nossa própria definição de inteligência, virtuosidade e beleza, uma vez que a nossa disciplina impecável serviria de escada para qualquer patamar. Não haveria depressão, medo, admiração exacerbada ou deficiência (física e psicológica) para deter quem quer que fosse.


O assunto permite afirmar ainda, com meu radicalismo de sempre, que aqui está uma das razões pela qual gostamos tanto de ler histórias e assistir filmes. Além da distração, é emocionante acreditar que um dia seremos pessoas reconhecidas e célebres – seja pelo mérito, pelo valor de nossa criação, pelo amor platônico que se concretiza ou pelo dinheiro que temos.


Mas, voltando ao meu ponto inicial, nunca seremos completos. Não somos melhores que ninguém (isso não deveria nem ser pensável), nunca teremos tudo, e é uma bobagem perseguir isso. Acho até engraçado existirem tantos livros de auto-ajuda (ou a auto-ajuda per se), sempre promovendo o encontro da Felicidade (com efe maiúsculo), a “convivência perfeita” dos casais, o encontro da sua “cara metade” ou ficar milionário – sugerindo, ainda por cima, que ficar rico resolve alguma coisa.


Let’s face it – não resolve. As pessoas certamente ficariam muito mais distraídas com o prazer puro que seria ter um rancho Neverland de entusiasmos e supérfluos. Ainda assim, o tédio eventualmente levaria o novo Michael Jackson em potencial a voltar à estaca zero, procurando algo que o fizesse feliz até o próximo momento de aborrecimento. E, veja só, estamos gastando nossa vida inteira trabalhando.


Então, não sei ao certo como concluir. Não sugiro uma vida antissistema ou algum tipo de anarquia. Sugiro na verdade o bom e velho conformismo, desde que você se lembre que nada nunca vai ser lindo e divino como nossos sonhos e devaneios sugerem.


E ao modo da Academia de Oratória, outra citação, agora no fim. Essa é de (previsível) Tyler Durden: "Você não é o seu emprego. Você não é quanto dinheiro você tem no banco. Você não é o carro que você dirige. Você não é o conteúdo da sua carteira. Você não é as calças cáqui que veste. Você é toda merda ambulante do mundo."


mp3: Yann Tiersen – Summer ’78 (Goodbye, Lenin! OST)


Resumo pro Volkmann: Assista “Clube da Luta” e saiba que ninguém nunca será único, feliz de verdade ou completo – essas coisas são inexistentes e a única noção de ‘felicidade’ que temos está intrinsecamente ligada à nossa distração do mundo de verdade, nem que tenhamos nosso rabo atochado de dinheiro.

2 comentários:

  1. Sei la, digamos que não concordo que felicidade de verdade nao existe, ja que minha definição disso pode ser diferente, mas irei so complementar esse post com uma sabia frase que li, autor ironicamente é o orkut:
    "A felicidade nada mais é do que boa saúde e memória fraca"

    Apesar de nao concordar totalmente com ela, faz voce pensar

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  2. Ainda acho que a felicidade real (ou o que você entender por isso), mesmo sendo relativo ao ponto de vista de cada um, é sempre alcançavel; ou quem sabe a satisfação não está no resultado final em si, mais na busca dele. De qualquer maneira, não precisa necessáriamente desviar sua atenção dos seus problemas para ser feliz, as vezes basta mudar o foco para a "busca pela solução desses".

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