sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Martha

Conheci Martha na bilheteria de um cinema. Não. Foi no caixa de uma livraria. Não. Foi na fila de um banheiro. Isso. Foi na fila de um banheiro. Eu entrava no banheiro e ela já lavava as mãos. Não. Foi o contrário: eu lavava as mãos e ela entrava no banheiro. Não. Quando eu entrei no banheiro, Martha estava lá, sentada. Não. Eu estava no banheiro quando. Não. Talvez fosse realmente na bilheteria de um cinema. A verdade é que eu não lembro da primeira vez que eu vi Martha. Mas lembro da segunda.

A segunda vez que eu vi Martha foi deitada sobre o meio-fio, com uma ferida no rosto. Desci do táxi (esqueci de falar, eu estava num táxi). Perguntei: Tudo bem com você? e ela: Adivinha. e eu: Não. e ela: Não o que? e eu: Não está tudo bem. e ela: Era uma pergunta retórica. Me leva pra casa? e eu: Onde você mora? e ela: Para casa que eu digo é para a sua casa. E eu só me lembro até aí. O resto foi Martha morando na minha casa, esperando a ferida cicatrizar. Quando eu ia trabalhar, ela dizia: Traz iogurte? Nunca perguntei o porquê da ferida. Nem deixei de comprar iogurte.


Copiado descaradamente de "Rua Caio Mário", o blog do Gregório Duvivier, que é foda e tal, bom à beça, sabe como é.

2 comentários:

  1. esse é daqueles que merece um comentário 'ó que fofinho'..

    gostei do texto, original, pequeno humor, romantico.

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