domingo, 25 de novembro de 2012

Esquecer-se: felizes vultos (pt. 2)


Em uma perspectiva mais deslumbrada, por outro lado, há o puro bliss extasiante de acordar com a cama tomada pelo súbito ar perfumado, pelo corpo quente e o único sorriso que eu consigo aceitar como belo e único. Sobre as longas mechas castanhas que adornam tanto minha incrédula realidade, paira o inconfundível motivo para abandonar qualquer pensamento que faça qualquer referência de longe à pedra de Sísifo. É visível como a assustadora perspectiva de assistir desmoronar o produto de semanas, meses e até anos de trabalho pode parecer apenas distração nesse tipo de momento. 

O karma indiano, as histórias infindáveis que serão sequer incluídas nos anais de qualquer registro, os tristes parentes e fantasmas que levarão consigo as biografias impublicadas, o gosto de pães de queijo inauditos: todos os itens dessa lista efêmera e volátil são os fractais infinitos de explicações incompreensíveis (cujos desdobramentos jamais cessam), resultando em uma única conclusão, demonstrável somente pelo afã do momento descrito agora: quando a luz batia pela janela em uma pequena fresta, na perfeita temperatura de novembro às 10h30, e a expiração brusca e barulhenta do labrador no andar de baixo são o único (e praticamente imperceptível) ruído, abri os olhos e fui recebido com o ‘bom dia’ mais doce que já pude ouvir. Meu corpo por completo ainda estava sedado pelo sono confortável do colchão de casal macio e pelo ar gelado do quarto. Despertei aos poucos, perguntando-me se podia aceitar aquilo sem remorso de todas as conversas tidas durante os dias úteis, nos bares, nos bancos da faculdade, e oferecidas por todas as inadiáveis e terríveis dificuldades alheias.

Ainda assim, confortei-me em meu mais sincero sorriso, e de olhos fechados, com todas as perspectivas de tempo convenientemente afastadas, citando um grande amigo, percebi: tem gente que vive uma vida inteira e não sente isso que a gente está sentindo. 

Não há medo do futuro que consiga persistir incólume. 

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nunca me esqueço: 
http://mundoderascunhos.blogspot.com.br/2012/10/retoricas-sobre-esquecimentos.html

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