domingo, 12 de fevereiro de 2012

Depois das duas da manhã


A noite por aqui desconhece o afã
e o ponteiro do relógio vai ficando desacreditado
depois das duas da manhã.
Vou-me esquecendo do mundo além da janela
e o assunto (fora a rima) volta-se a ela:
breve madrugada.

Eis o absurdo e o abismo, batendo a meus umbrais.
(Já passa da meia-noite, mas o corvo não vem.)*
Eles perdem-se num infinito de estrelas e fractais,
mas o infinito vale de quase nada
durante a madrugada.

Vem a mim inclusive um certo fantasma suicida,
triste conhecido ainda vivo.
Toda essa hipocrisia arrependida
é quase, eu diria, como nossas outras vidas inventadas:
vão-se conforme findam as madrugadas.

Não sei mais. Fora o suspiro e essa conversa desventurada,
Surgem estrofes (sem métrica) e personagens
que se multiplicam antes que consiga deixar a ideia esboçada.
Mas ideias que vêm são menos que nada
se só vêm durante a madrugada.

Sinto-me enfim um grande pessimista.
Acordarei confuso e sem entender o ponto de vista,
que terá menos sentido ainda que tinha horas atrás.
Mas isso não há de ser nada.
Estamos diante do limiar da alvorada
agora, ao fim da madrugada.

--

Mais poesia e madrugada: http://mundoderascunhos.blogspot.com/2012/02/distracao-tempo-e-lembrancas.html (A challenge accepted indeed!)


* E, como disse-me um amigo certa vez, referindo-se a alguma coisa (cuja referência nunca mais achei): "we're standing at the threshold of dawn". E complemento: vor der Schweile der Dämmerung stehen wir!

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