quarta-feira, 18 de abril de 2012

A ausência em metáforas kitsch

Domingo fui ao parque
as crianças brincavam aos montes
corriam ao redor do lago, da fonte
e os patos, despreocupados.
No gramado logo ao lado
(já era quase noite)
debatiam as pessoas em roda
sobre o porquê de passarem
e tão logo já desaparecerem
os cometas, essas quase-estrelas,
que devem ser metáfora kitsch para alguma coisa,
(sugeriu alguém de camiseta colorida)
mas o céu não deu mais nada a entender.
Pensamos bem e concluímos sem dizer
que, fosse o que fosse aquilo diante de nós,
sentiremos profundamente sua ausência
se ousar não voltar
para que em brados a recebamos;
contaremos os dias sem dar certeza
de que ao cabo de mais sete dias
estará tudo lá como deixamos.
Outro camarada acendeu um cigarro.
Ele não soube dizer se, na verdade,
não era aquilo alguma outra coisa
que podia eventualmente tê-lo ocorrido,
talvez um satélite ou quiçá um meteorito.
Enfim lamentamos como tudo é tão fugaz
— se ao menos nos deixassem algo escrito!

(O que começou como devaneio
tornou-se disfarçadamente frequente desalento
que volta e meia surpreende-me desatento.
Há uma boa razão para tocar o violoncelo
e é uma pena que não tenhamos tudo agora
por maior que seja a fantasia de qualquer tentativa.
Serei claro: meu lirismo namorador, político
raquítico e sifilítico lastima sinceramente
essa ausência que ameaça tornar-se definitiva.)
--

Ausências são sempre superlativas:
http://mundoderascunhos.blogspot.com.br/2012/04/abwesenheit.html

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