sexta-feira, 13 de março de 2009

Reflexões sobre o transporte coletivo urbano

A palavra ônibus tem como origem o termo latino omnibus, que significa para todos. E realmente, por mais desagradável e chato que possa ser; pegar o ônibus, nem que seja uma ou duas vezes por semana, faz parte da rotina de uma boa parcela da população. Não estou me referindo aqui aos grandes, confortáveis e obviamente mais caros busões de viagens, mas sim aos seus semelhantes que circulam nas cidades. Entendo que subir no 32 lotado e ficar em pé um bom tempo não é a melhor coisa do mundo; mas nada se compara às viagens interurbanas, como a linha Blumenau-Indaial.


A cena é clássica: quando o ônibus faz a curva e fica visível do ponto, um grupo de 15 pessoas, mais ou menos, começa a se levantar dos bancos e a se agrupar de forma desordenada para ver quem entra primeiro na lata-velha. Se você deu azar e não conseguiu chegar à frente da turba ou se não distribuiu um número elevado de cotoveladas e empurrões para ser o primeiro a embarcar, perdeu boy. Sua chance de conseguir um assento está reduzida a praticamente zero. Mas se você é do tipo que costuma acertar o milhar do jogo do bicho ou ganhar na Mega-Sena, talvez você ainda consiga sentar, nem que seja num lugar não tão bom. Entenda por isso aquele vaga ao lado de uma mãe desnaturada, que conseguiu agrupar sua prole de 3 filhos num banco só (um no colo, um no meio, e um espremido entre o banco da frente e a janela); ou perto daquele cara que dormiu e está com o corpo inclinado para o lado, praticamente ocupando metade do assento adjacente.

Agora, se você faz parte dos outros 99% da população, provavelmente você vai ter que :

1- Ficar em pé 80 minutos ininterruptamente.

2- Segurar na barra até ficar com calos na mão.

3- Agüentar a suvaca master do cara ao seu lado.

4- Escutar o cobrador gritar umas 5 vezes : “Todo mundo para trás que vai entrar mais gente!”

5- Agüentar algum FDP aleatório que queira falar com você, pois ele não consegue ficar sem fazer nada e se sente impelido a criar pseudo-amizades com prazo de validade de 30 minutos.

6- Escutar à Guararema ou à Menina FM por MUITO tempo.

7- Realizar movimentos dignos de um contorcionista romeno toda vez que alguém precisar sair.

Além disso, mesmo se você estiver sentado ou em pé, vai ser obrigado a escutar, presenciar ou até mesmo fazer coisas, no mínimo, ilógicas.


Comecemos pelo cobrador, que na verdade se chama trocador. Subentende-se que sua função seja dar o troco. Mas às vezes nem isso ele faz direito. Quem nunca escutou: “ Aí fera, tô sem troco, vou ficar te devendo 5 centavos.” O problema não são os 5 centavos, que teoricamente não irão fazer falta pra ninguém; mas sim a cara-de-pau de muitos cobradores que têm o troco, mas fingem que não o possuem para ganhar vantagem. Nessas horas é que o passageiro devia pedir: “Pô truta, não rola de tu fazer um vale 5 centavos e botar o carimbo da firma, daí na próxima vez eu apresento o vale e tu me desconta esse dinheiro ?” Óbvio que ninguém pede isso, mas faz sentido e iria encher o saco de um monte de FDP‘s. Isso sem falar nas vezes que eles dão o troco errado e nem avisam, pensando que você não vai se ligar que eles embolsaram um pouco a mais.


Outro ponto: quem nunca foi obrigado a conversar com um cara qualquer no ônibus? Geralmente esses são indivíduos altamente agoniados que não conseguem ficar de boa e olhar para frente. Ou pessoas que querem converter você para a religião deles. Aliás, por que praticar o proselitismo no ônibus? Não faz sentido. Afinal, você só quer chegar logo em casa, e não está nem aí se o Tinhoso está te desviando do caminho de Deus, ou se o fim do mundo está próximo.


Falando nisso, odeio quando esses caras aleatórios começam a conversar de uma forma primitiva -falando alto e obrigando as pessoas que os circundam a ouvir sua conversa. Tenho que confessar que já escutei coisas absurdas nessas ocasiões. Uma vez, por exemplo, uma lésbica contou suas aventuras sexuais a uma amiga,e por conseguinte, ao ônibus todo, já que falava num volume elevado. Outra situação parecida foi quando uma mulher esculachou,um por um, os moradores de sua rua. O vizinho era corno, o cara da oficina era boçal e se achava perante os outros porque tinha o ensino médio, e por aí vai. As besteiras histórico-cultural-geográficas também não ficam atrás: a Turquia faz fronteira com Itália, na Alemanha as mulheres que usam bolsa são putas, a Jamaica fica na África ... Já escutei diversas pérolas assim.


E o que dizer do estado dos ônibus? Alguns são dos anos 80 ainda, com o estofamento furado,janela emperrada ,etc. Isso sem mencionar o incrível número de chicletes colados em todos os lugares possíveis. Um deles, da época da Guerra Fria, pode até querer grudar no seu braço se você encostar no parapeito.

5 passos para trás aí pessoal !



Todos esses motivos fazem com que eu não goste de pegar ônibus, especialmente a linha Blumenau-Indaial. Mas posso dizer que as minhas histórias bizarras com eles começaram muito antes, mais precisamente quando eu tinha 6 anos. Eu estava no Bondindinho com a minha tia e vi um cara enorme, de quase 2 metros,com a camisa rasgada parecendo um mendigo; cantar a música Xô Satanás ,do Asa de Águia. Para quem não conhece a música, aqui vai o refrão:

Eu era um bêbado que vivia drogado
Hoje estou curado, encontrei Jesus
Encontrei Jesus, encontrei Jesus
Na casa do Senhor não existe Satanás
Xô Satanás, xô Satanás
Na casa do Senhor não existe Satanás
Xô Satanás, xô Satanás



Na época eu não sabia o que era axé muito menos o que era o Asa de Águia(hoje preferiria não saber também), mas percebi que aquele tipo de lugar, apertado e socado,era um reduto de freaks e que qualquer coisa podia acontecer ali. Mais tarde, lá pelos 12, estava vindo tranquilo de Blumenau para Indaial quando, de repente, o ônibus parou. Aí o motorista saiu de seu compartimento e disse algo mais ou menos assim:: “Galera, todo mundo pra fora porque ocorreu um vazamento de óleo e o motor do ônibus pode explodir.” Logo após a evacuação, ainda presenciamos um acidente entre uma moto e um carro que aconteceu na rua à nossa frente; e tivemos que esperar um monte até sermos recolhidos por circulares.



Por isso, até hoje minha visão sobre esses ônibus urbanos não mudou muito. Eu sei que eles ajudam a reduzir a emissão de CO2 e tudo mais; porém ainda acredito que existam formas melhores de transportar um monte de gente sem que isso se transforme numa sessão de tortura da Inquisição Espanhola.



Resumo para o Volkmann: Falei sobre um monte de coisas, mas tu podes encontrar o resumo mesmo aqui : http://www.youtube.com/watch?v=oHg5SJYRHA0



Resumo do resumo para o Volkmann: d’llor’kcir neeb ev’uoY


2 comentários:

  1. Nada como um texto que, quase na íntegra, demonstra a vocação do autor para um sub-português de construção civil :D

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  2. hahaha 31 6h de segunda é quase isso. boaa

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